Ontem, fui à praia de noite.
Ouvi o respirar da lua, ensurdeci
Com o rugir das ondas, envolvi-me
Com a areia gelada e o vento soprou
Meigo no meu pescoço. Arrepiou-me e
Invejou a acalmia dos teus beijos.
Disse-lhe, quisera eu sentir-te aqui e agora.
Ameacei-o se te afastasse de mim, se soprasse
A sombra das tuas lembranças para além
De um toque de pestanas. Não se tranqüilizou.
Enfureci-o e, ciumento, ralhou com os meus caracóis
Que te reclamavam ferozmente. Enrosquei-me
No casaco que teimava em substituir-te. Pintei
Na lua o teu rosto, calquei na areia o teu nome - que me sorriu -
Repeti-o até o meu coração sangrar de tanto te gritar.
Ao lado do teu escrevi o meu. Talvez assim, pelo menos ali,
Quisesse o destino ver-nos juntos. Como a sede de um rio
Em busca da foz, o mar correu na minha direção
E levou-os de mãos dadas. Para onde…não sei.
Mas sei que nem a fúria de uma mãe em defesa da cria
Te arrancam de mim. Pelo menos, do meu coração.
In: Gosto e contragosto
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