domingo, 27 de abril de 2008

BRASIL – FALSAS VERDADES QUE SE ESPALHAM

‘Metade das brasileiras acredita que maturidade deve banir unhas compridas, salto alto e cores vibrantes’

Uma pesquisa mostra que é comum o habito de classificar os grupos em tipos. Mulheres com mais de 40 nos devem manter o cabelo curto. Louras são burras. Idosas são fofoqueiras. Homens não choram. Obesos são preguiçosos. Segue por ai uma extensa lista de idéias prontas, verdades definitivas compartilhadas por grande parcela da população.
É comum o hábito de generalizar e classificar os grupos em tipos. Essas crenças, conhecidas como estereótipos, são produto de uma série de circunstancias históricas, geográficas, sociais e econômicas, de acordo com o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), autor do livro Psicologia social dos estereótipos, Marcos Emanoel Pereira.
O especialista esclarece que uma das principais constatações da psicologia social é a de que, ao interagir, as pessoas levam em conta não só o que estão vendo e ouvindo, mas o conhecimento que dispõem sobre o grupo ao qual pertence a outra pessoa. Por vezes, os estereótipos emergem sobre a forma de anedotas, cujo alvo pode ser mulheres, estrangeiros, crenças religiosas ou até profissões. O humorista brasiliense Cláudio Falcão, pai das personagens Mary, Berenice e Goreti, reconhece a importância da construção de tipos para o humor, levando ao extremo suas peculariedades como, por exemplo, o vocabulário “tipo assim” da adolescente Mary. “Os excessos se tornam engraçados”, diz Falcão.
Apesar de serem menos notados, também existem estereótipos positivos, como a idéia de que todos os japoneses são engenhosos. Assim, em algum momento da vida, as pessoas acabam sendo catalogadas. Algumas admitem que já tiveram medo de serem rotuladas por causa da aparência física. Um exemplo é o da arquiteta Flávia Ramos. Loura natural, é uma profissional de sucesso que rejeita a idéia de que é possível julgar uma mulher pela cor de seus cabelos.
No inicio dos anos 1990, a música Lôraburra, de Gabriel, O Pensador, era um sucesso de execução nas rádios. “Loraburra, cê não passa de mulher objeto”, dizia a letra. A canção incomodava a dedicada e inteligente universitária Flávia Ramos. Então com 16 anos e cursando a faculdade de arquitetura, ela temia que os colegas pudessem relacioná-la ao hit. “Ficava com medo de as pessoas acharem que eu era burra porque era loura”, relembra. Aos 30 anos, Flávia coordena o trabalho de uma equipa de oito homens e nunca foi rotulada no meio profissional.
A arquiteta conta que morou por três anos nos Estados Unidos e, por lá, os preconceitos estão mais vinculados à beleza feminina. Ou seja, toda a mulher bonita, em principio, é incompetente. Flávia reconhece que, às vezes, percebe que as pessoas se surpreendem com a sua trajetória profissional, como se a substimassem previamente. No entanto, em sua opinião, as crescentes conquistas femininas no mercado de trabalho estão reduzindo o espaço para esse tipo de idéia. Ela ressalta que muitas vezes os preconceitos são acentuados por causa das atitudes de celebridades que sobrevivem às custas da imagem. “Isso acaba reforçando alguns estereótipos”, avalia.
Como nascem os estereótipos Solange acha absurdo quem acredita que depois dos 40 anos a mulher tem que manter o cabelo curto.
Criar tipos é um processo individual e ocorre quase sempre de forma automática. ,as é difícil rastrear em nossa história pessoal como essas idéias nascem. Uma parte dessas crenças foi aprendida ao longo da vida. “É impossível imaginar uma categoria social que não seja alvo de algum tipo estereotipado”, explica o psicólogo Marcos Emanoel Pereira. De certa forma, os estereótipos simplificam a realidade, o que acaba criando convenções, como a de que mulheres depois dos 40 anos devem manter os cabelos curtos. A pesquisa, A beleza amadurece, da Dove, feita com 1.450 mulheres de 50 a 64 anos, em nove países, mostra que as brasileiras acreditam que na maturidade devem banir unhas compridas 44%, roupa de cor vibrante 46% e maquiagem 48%.
A gerente administrativa Solange Brasil Tourinho, que não revela a idade, admite já ter ouvido de muitas pessoas que os cabelos curtos rejuvenescem.

‘Erica Andrade’

Sem comentários: