terça-feira, 1 de abril de 2008

AQUELE MENINO QUE VENDIA BOLOS…

Ele vendia bolos na rua. Era mulato e pobre. Mulato numa sociedade, profundamente preconceituosa. Ficou órfão logo cedo. Seu pai era pintor de paredes. Quem o visse não daria nada por ele. Pois bem, leitor, foi esse menino do subúrbio carioca que, depois, se tornou o maior escritor brasileiro. Apesar de tanta adversidade em sua infância, ele conseguiu o que muitos não conseguem, embora nascidos em berço de ouro: um invejável status social.
Como o leitor já deve estar percebendo, refiro-me a Joaquim Maria Machado de Assis, romancista, contista, poeta, cronista e fundador da Academia Brasileira de Letras, sua paixão depois da esposa Carolina, uma portuguesa branca, culta e bonita, a quem ele dedicou um profundo amor. E quase que esse casamento exemplar não se realizou em face da forte oposição da família da esposa. Afinal, ele era culto, mas mulato.
Mas, o que salvou Machado foi aquele emprego numa tipografia. O menino era um apaixonado pelo livro. E chegou a publicar um poema num jornal. E aos poucos foi se entrosando nos meios literários da época. Quem lhe deu a mão e o incentivo pelas letras foi o famoso Coelho Neto.
A exemplo do nosso Carlos Drummond de Andrade, Machado terminou funcionário publico. E, diga-se de passagem, foi um exemplar burocrata, cumpridor dos seus deveres, pontual e eficiente no serviço.
Foi admirável no romance, gênero literário da sua predileção. Também utilizou a crônica em que comentava, com muito humor, o dia-a-dia da vida carioca. Dizia que, graças à sua miopia bastante acentuada, conseguia ver o que as grandes vistas não alcançavam. E, ao que salientou a sua biografa Lucia Miguel Pereira, Machado era um admirador da musica clássica, sobretudo as operas. Chegou a ser sócio do Clube Beethoven, existente na época.
Dizem alguns críticos que o autor de Dom Casmurro, nos seus livros, quase que não faz referencia à Natureza. Todavia, ninguém se aprofundou mais na natureza humana do que ele. Foi um analista admirável das nossas fraquezas. Aliás, há quem o compare a Shakespeare.
Machado nunca saiu do Brasil. O nosso Drummond pelo menos esteve em Buenos Aires, e que não gostou.
Mas a sua maior tragédia foi a epilepsia. Nisso faz lembrar Beethoven em relação à surdez. Machado foi um homem sério e sereno. Informam que, moribundo, recusou a chamada “extrema unção”. Não gostaria de ser hipócrita, teria dito.
Fato curioso, em muitas de suas crônicas, ele fez referencias ao Espiritismo. Chegou a proclamar, em alto e bom som: “O principio espírita é fundado no progresso”. Mais adiante; “O Espiritismo se ocupa de altos problemas”.

‘Carlos Romero’

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