sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

‘CONVENÇÃO DOS FERIDOS POR AMOR’

Disposições gerais:

A – Em se considerando que está absolutamente correto o ditado “tudo vale no amor e guerra”.

B – Em se considerando que na guerra temos a Convenção de Genebra, adotada em 22 de Agosto de 1864, determinando como os feridos em campo de batalha devem ser tratados, ao passo que nenhuma convenção foi promulgada ate hoje com relação aos feridos de amor, que são em muito maior numero.

Fica decretado que:

Artigo 1º - Todos os amantes, de qualquer sexo, ficam alertados que o amor além de ser uma benção, é algo também extremamente perigoso, imprevisível, capaz de acarretar danos sérios. Consequentemente, quem se propõe a amar, deve saber que esta expondo o seu corpo e a sua alma a vários tipos de ferimentos, e não poderá culpar o seu parceiro em nenhum momento, já que o risco é o mesmo para ambos.

Artigo 2º - Uma vez sendo atingido por uma flecha perdida do arco de Cupido, deve em seguida solicitar
ao arqueiro que atire a mesma flecha na direção contraria, de modo a não se submeter ao ferimento conhecido como “amor não correspondido”. Caso Cupido recuse tal gesto, a Convenção ora sendo promulgada exige do ferido que imediatamente retire a flecha do seu coração e a jogue no lixo. Para conseguir tal feito, deve evitar telefonemas, mensagens por internet, remessa de flores que terminam sendo devolvidas, ou todo ou qualquer meio de sedução, já que os mesmos podem dar resultados a curto prazo, mas sempre terminam dando errado com o passar do tempo. A Convenção decreta que o ferido deve imediatamente procurar a companhia de outras pessoas, tentando controlar o pensamento obsessivo “vale a pena lutar por essa pessoa”.

Artigo 3º - Caso o ferimento venha de terceiros, ou seja o ser amado interessou-se por alguém que não estava no roteiro previamente estabelecido, fica expressamente proibida a vingança. Neste caso, é permitido o uso de lágrimas até que os olhos sequem, alguns socos na parede ou no travesseiro, conversas com amigos onde se pode insultar o antigo(a) companheiro(a), alegar a sua completa falta de gosto, mas sem difamar a sua honra. A Convenção determina que seja também aplicada a regra do Artigo 2º: procurar a companhia de outras pessoas, preferivelmente em lugares diferentes dos freqüentados pela outra parte.

Artigo 4º - Em ferimentos leves, aqui classificados como pequenas traições, paixões fulminantes que no duram muito, desinteresse sexual passageiro, deve aplicar-se com generosidade e rapidez o medicamento chamado Perdão. Uma vez que este medicamento aplicado, não se deve voltar atrás uma só vez, e o tema precisa estar completamente esquecido, jamais sendo utilizado como argumento em briga ou em um momento de ódio.

Artigo 5º - Em todos os ferimentos definidos, também como chamadas “rupturas”, o único medicamento capaz de fazer efeito chama-se Tempo. Não adianta procurar consolo em cartomantes (que sempre dizem que o amor perdido irá voltar), livros românticos (cujo final é sempre feliz), novelas de TV ou coisas do gênero. Deve-se sofrer com intensidade, evitando-se por completo drogas, calmantes, orações para santos. Álcool só é tolerado em um máximo de dois copos de vinho por dia.

Determinação final:

Os feridos por amor, ao contrario dos feridos em conflitos armados, não são vitimas nem algozes. Escolheram algo que faz parte da vida, e assim devem encarar a agonia e o êxtase da sua escolha. E os que jamais foram feridos por amor, não poderão nunca dizer: “vivi”.
Porque não viveram.

“Paulo Coelho”

Sem comentários: