sábado, 19 de janeiro de 2008

SOBRE A CONTREMPORANEIDADE DO MARXISMO

O marxismo de Marx é um dos legados intelectuais mais importantes do século XIX. Trata-se de conhecimento complexo e de refinado conteúdo cientifico e filosófico. É também, ideologicamente comprometido, seguindo às limitações e tradição do pensamento sobre a realidade social, econômica e política. É difícil saber o que no marxismo é filosofia ou ciência. O que mais lhe caracteriza é ser um sistema integrado dessas áreas do saber humano. Ai estariam os fundamentos para a acção política voltada à edificação da sociedade socialista.
Enquanto filosofia, o marxismo, além de revolucionar o método dialético, inspirou.-se num fim preciso: transformar a sociedade. Enquanto ciência pautou-se pela teoria critica do capitalismo. À luz do seu conteúdo filosófico (a dialética materialista), o marxismo enriqueceu o seu conteúdo cientifico (o materialismo histórico), e vice-versa.
Como sínteses do manancial científico-filosófico do marxismo, destaca-se a sua teoria do valor e da valorização do capital. Nela estão os argumentos da luta de classes, que baseiam a teoria da exploração dos assalariados, e a essência das leis do desenvolvimento capitalista, rumo à sua autonegação histórica. A razão disso estaria nas contradições do processo de produção e a acumulação de capital. As evidencias do caminhar traumático desse modo de produção seriam as freqüentes crises de super-acumulação, sub- consumo e desequilíbrio entre os sectores produtivos.
O marxismo se propôs a ser a lógica-histórica do que antes eram utopias socialistas: o sonho de uma sociedade sem classes; a propriedade colectiva dos meios de produção; a superação do modo de produção capitalista e o fim da alienação da essência humana. Em O Capital, Marx dizia:
“A finalidade maior desta obra é descobrir a lei econômica da sociedade moderna”.
Reconhecia, porém, que mesmo uma sociedade descobrindo a lei natural do seu processo de desenvolvimento ela não pode dar saltos ou suprir por decreto as fases naturais desse processo. Nem por isso deixou de ter fé no caminho das soluções políticas capazes de abreviar as dores do parto da sociedade sonhadora.
Avaliar a actualidade do marxismo envolve três aspectos básicos: a sua proposta metodológica e teórico-científica de apreensão da realidade sócio-ecônomica; as suas conclusões sobre as tendências do capitalismo e as limitações de Marx, ao ter como objecto de investigação o incipiente capitalismo inglês de meados do século XIX.
Coerente com Marx, o capitalismo de hoje deve estar mais próximo da sociedade do futuro por ele almejada. O marxismo original carece de ajustamentos. A globalização econômica e a emergência da sociedade do conhecimento são factos. Marx concebeu a tendência dessa ordem futura do capitalismo, não teorizou sobre ela. Mas já sabia que, nesse contexto, o trabalho se tornaria uma fonte miserável de geração de valor e riqueza, comparado à ciência e tecnologia.
O capitalismo aprendeu a administrar melhor ou mascarar as suas crises, mas sem eliminar as suas contradições. Há enigmas de efeitos monumentais a decifrar: a financeirização fetichista da valorização do capital e as pseudo-soluções da intervenção estatal na economia e da criação recorrente, pela iniciativa privada, das bolhas de consumo, investimentos, credito, etc. A fúria consumista compromete o equilíbrio ecológico da Terra. O desejável é que o capitalismo aprimore o cumprimento da sua missão; urge corrigir os seus rumos. É preciso evitar que a sonhada sociedade do futuro deixe de existir, por falta de Planeta.

- “Rômulo Soares Polari” -

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