sábado, 19 de janeiro de 2008

OS MOCHES

Temos o inaceitável comportamento de não procurar conhecer as origens do continente americano.Ao estudar a Historia antiga, logo nos foram apresentadas as pirâmides do Egipto ; o grande Império Romano; os jardins suspensos da Babilônia; a Mesopotâmia; e o iluminado mundo grego. Mas, em momento algum, nos bancos escolares, nos falaram sobre os Incas, os Astecas e o misterioso mundo Moche – civilizações que habitaram o solo americano e que, sem duvida, foram e são tão importantes quanto as inicialmente aqui mencionadas.
Dentre essas civilizações, há uma que, pelo seu modo peculiar de vida, nos chama a atenção. Referimo-nos a esse mesmo Império Moche, que viveu seu apogeu entre os séculos primeiro e sétimo depois de Cristo. Instalado no litoral norte do Peru, os Moches eram detentores de impressionante cultura pré-incaica. Ergueram pirâmides de adobe – uma delas é ate hoje tida como maior das Américas. Diferentemente das do Egipto, essas pirâmides possuíam plataformas enormes, que abrigavam o palácio imperial, com requintados aposentos, salões esplendorosos e locais reservados à adoração de deuses.
Foi uma civilização extremamente talentosa no artesanato, com bela produção cerâmica e de magníficas jóias de ouro. Tais utensílios denotam mitos e segredos desse povo, acima de tudo guerreiro e guiado por um líder cuja autoridade advinha dos deuses.
O povo Moche, após atravessar períodos de seca, realizava cerimônias místicas, quando caia a chuva. Nessas oportunidades jovens guerreiros viam-se entregues ao sacrifício, com execuções marcadas, em rituais extremamente dolorosos, por um golpe certeiro na altura do pescoço, recolhendo-se o sangue do sacrifício para ser servido ao imperador.
Tais evidencias foram sendo montadas passo a passo, após a descoberta de um grande numero de esqueletos, os quais estavam num mesmo local e em profundidades seqüenciais. Examinados por médicos legistas norte-americanos, veio a conclusão de que se tratava de jovens sacrificados em agradecimento pela chuva, pela terra molhada, pronta para a plantação e colheita, ali enterrados após tais rituais.
Mas, tudo tendo seu apogeu e declínio, não podia ser diferente com os Moches, os quais desapareceram misteriosamente entre os anos 650 e 710 depois de Cristo. Sumiram da história de forma abrupta. Sua civilização desmoronou. Bem depois, muitos estudiosos questionaram o que teria causado esse desaparecimento. Um dia o quebra-cabeça haveria de ser montado, revelando a verdadeira historia.
O minúsculo exame de materiais retirados de uma geleira próxima ao território Moche constatou que ocorrera inexplicável prolongamento do fenômeno de “El Nino”. A partir do ano 650 d.c, registraram-se trinta anos de inverno pesado, com muitas geadas. Mas o incrível é o que as evidências apontam: após esse longo inverno, seguiram-se cerca de mais de trinta anos de grande seca.
Nem mesmo as mais preparadas nações de hoje conseguiram suportar uma catástrofe climática tão extensa e impiedosa. A civilização Moche quedou-se diante da força da Natureza e, após abandonar o norte do Peru, apenas uns poucos deles conseguiram atravessar o deserto entrando num intenso conflito que terminou por esfacelar definitivamente o império Moche.
Hoje, como evidencia de que os Moches realmente existiam, podemos contemplar a múmia de uma guerreira desse povo, encontrada num impressionante sarcófago, perto da cúpula da pirâmide em ruínas de Huaca Cad Viejo, e conviver com exemplares do artesanato Moche ainda praticado pelos modernos Peruanos.

- “Onaldo Queiroga” -

Sem comentários: