sábado, 19 de janeiro de 2008

E SE UM DIA NOS TOCAR A NÓS...

Ainda havemos de ver...

Agora que correm como fel as noticias que indignam quem tenha um pouco de sensibilidade, pelas quais se conclui que a Caixa Geral de Aposentações tem optado pelo recurso a juntas medicas militantemente sádicas que, ao que parece, contrariamente ao que o nome indica, não são integradas exclusivamente por médicos, são-no também por garbosos burocratas ao serviço do governo que esta, para o bem do déficit que temos. Esta aberração não me espanta nem um nadinha; neste país, desde que vi um porco a andar de bicicleta, já nada me espanta.
Ora, como temos visto, os meios de excitação social atiram-se à coisa como se fosse novidade, como se não se soubesse há muito que tem havido centenas de queixas para Provedor de Justiça de gente que, andando a cair aos bocados, vê indeferidos os pedidos de reforma.
Já lá vai o tempo em que bastava ter caspa para ser contemplado com uma invalidez. Tive até um amigo que, cansado do emprego estafado que o moia, foi ao médico e pediu-lhe:
- Ó Sr. Dr., receite-me ai uma doença que não doa muito nem mate depressa, que eu preciso de mudar de vida.
Agora, não. Doentes terminais são obrigados a morrer de pé, pondo carimbos ou dando aulas. Tens cancro na laringe e não podes sequer falar? E nós ralados, vais dar aulas de Filosofia e, se as palavras te morrem na garganta, podes fazê-lo com linguagem gestual. Mas cuidado, não digas mal do governo, que levas com um processo em cima de que não te safas mesmo que morras. Tu podes não ver o governo, mas ele vê-te onde quer que estejas e tem delatores voluntários que só querem ficar bem vistos, não prejudicam o déficit, não recebem à peça como antigamente.
Como tudo isto, ainda havemos de ver os mortos serem arrancados ao silencio da morada que julgavam ultima para serem sentados à secretaria, a trabalhar por objectivos, e com direito ao “mérito” que o cartão do partido e a graxa ao chefe permitam.
Emagrecer a função publica? Pois, sim senhor, mas não de mão beijada. Só os que tem a mania da aritmética é que defendem que para reduzir significativamente o numero de funcionários públicos bastaria diminuir em um ou dois anos a idade da reforma, mas o governo entendeu que bom era aumentar em cinco e, como foi democraticamente eleito, é ele que tem razão.
Tem razão e tem todo o apoio popular. Alias, previsivelmente, subirá nas sondagens na exacta proporção em que for cruel, demagógico e arrogante. Este governo é tudo isso e muito mais e a razão de ter o mando garantido e nenhuma oposição a causar engulhos. E não esqueçamos: este governo diz que é de esquerda; só não nos diz se é do lado de quem entra se é do lado de quem sai.
O povo gosta disto, mesmo que diga que não.

- “ Abdul Cadre” -

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