sábado, 19 de janeiro de 2008

DO CIBAZOL AO HABEAS PINHO

Passei boa parte da minha infância morando em cidades do interior. Meu pai como Magistrado era obrigado a peregrinar de códigos a mão por diversas comarcas paraibanas.
Quem é da minha geração deve lembrar o chiclete Adams e alguns apetrechos da época com certa dose de nostalgia.
Lembro-me que antigamente o domingo era festejado em família e logo cedo formávamos fila à porta do banheiro nos preparativos para a missa matinal. Na saída, minha mãe com as mãos encebadas, esparramava em nossas cabeças a brilhantina Zezé, enquanto meu pai com um potente pente Flamengo cuidava dos retoques finais.
Café da manha servido: Aveia Quaker; Emulsão de Scott. Ouvidos atentos ao chamamento dos nossos pais, sempre perguntando se havíamos decorado o Ato de Contrição. O percurso não era longe e mesmo assim meu pai ao degustar algumas tragadas do seu cigarro Continental ou do Capri sem filtro, apreciava de mansinho a beleza da minha mãe, toda retocada de Cashmere Bouquet. O transito era pouco, mesmo assim tínhamos cuidado no velho caminhão Fenemê, que diziam rodar sem freios.
A imagem é real e lembro à visita do tio Carlos Ovídio com seu famoso e belo Simca Chambord o que me faz lembrar também, que ele não gostava de Crush nem Mirinda. O tempo passou e já garotos em formação com os hormônios a todo o vapor, tínhamos que colocar o polvilho Anti-Séptico Granado antes de calçarmos nosso Conga ou Kichute. Minha irmã que ainda brincava de Bombolê protegida por Leite de Rosas, lambuzava a cara com a pomada Minancora tentando esconder as espinhas da idade.
Mas o tempo é cruel, nada espera e chega à adolescência. Daí, lembro, e como me lembro da minha bela namorada Rosângela. Doze anos de idade, belos cabelos em cacho tipo Luluzinha, presos por vigorosas Marias Chiquinhas, que graças a Deus no instante da confecção deste texto está aqui, sempre ao meu lado.
Por fim, lembrando o quanto usei o Sonrisal para curar a ressaca, o Melhoral para aliviar a conseqüente dor de cabeça e a pastilha Valda para cortar o bafo da marvada, lembro também de Roberto (ceguinho) de Astrogildo, que tomou todas e deixou meu violão empenhado no bar de cabaço. Infelizmente, ainda não existia o Hábeas Pinho do Poeta Ronaldo Cunha Lima.
Enfim, este é um testemunho sem cheiro de naftalina.

- “Amadeu R. Cordeiro” -

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