terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Não esqueçam

‘Tô de saco cheio da velharia. O conceito aqui não bate na questão de idade, até porque cheguei aos 60. ‘Tô falando de postura, pensamento, ação, modos, ideologia. Espere aí, cara-pálida ou pele-vermelha, existe ideologia, sim; caso contrário, tinha parado de escrever há não sei quantos tempos e espaços de mim.
’Tá vendo a ilustração ao lado aí? É Jimi Hendrix, mesmo, cara-pálida ou pele-vermelha. Só não sei de quem é a ilustração. O autor me perdoe a ausência de crédito. Me mandaram por e-mail. Recebo muita coisa, daqui, de Brasília, Porto Alegre, Paris, Valencia, do mundo. Nem tudo vem com crédito. Mas essa do Hendrix ficou tão pra lá de hiperbacana que não podia deixar de usá-la. Ainda mais porque ontem foi aniversário de Alex Madureira, um dos meus guitarristas preferidos. Foi na casa de Alex, quando ainda em Jaguaribe, e éramos garotões, que escutei, algumas vezes, Hendrix.
Na semana que acabou, escutei “Axis: bold as love”. Era um dos preferidos de Alex. Nunca perguntei, mas tenho a impressão de que Alex decidiu de vez ser guitarrista por causa desse disco de Hendrix. Tem um pancadaço nele, durando exatos 5 minutos e 32 segundos, que mudou minha maneira de encarar os sons. Tanto quanto antes os Beatles fizeram comigo (God, já são quarenta anos de “Sgt. Pepper’s”...). O pancadaço hendrixiano é “If 6 was 9”, com Mitch Mitchell arrebentando na bateria. Aquilo me fez escrever “Se 6 fosse 9”, o que me levaria (como numa antevisão das tragédias suicidas - ou não?) a compor, em parceria com Cleodato Porto, “Oh, Jimi, oh, Janis” (claro que Hendrix e Joplin, e quantas e quantas saudades rolam agora dos atos mais rebeldes de nossa geração...). Mas, escute aqui, cara-pálida ou pele-vermelha: a rebeldia não morreu. Assim, a esperança também não. Tenho navegado em mares da Internet que me dão a certeza disso.
Aproveito pra pedir aos que me acompanharam nessa estrada (gente como Jaldes Menezes, Walter Galvão, Sílvio Osias, Kaká Santa Cruz, outros, outros, outros, todos “ordinary people”, pois nunca tivemos a vocação de “very important person”) que não esqueçam as paixões que tive, os artigos que escrevi, os livros que não publiquei, as idéias que debati e as músicas que fiz, principalmente “Sociedade dos poetas putos”. Só “errei” numa coisa quando joguei no ar, prontinho, o disco-mix-vinil “Sociedade dos poetas putos”, em 1991. Devia ter feito aquele lançamento em São Paulo e não aqui, onde o conservadorismo tinha recomeçado a crescer até chegar ao que a Parahyba é hoje em estética. A Parahyba em estética regrediu. Aperfeiçoaram-se formas, maneiras de gravar, de tocar um instrumento, de editar, essas coisas, enfim. Mas, o divino conteúdo, cara-pálida ou pele-vermelha, sumiu junto com o Lixão do Roger.
(Quero aproveitar pra deixar público, pela primeira vez, que somente saí de casa, em Cruz das Armas, naquela manhã, pra ir gravar “Sociedade dos poetas putos”, por causa da insistência amiga de Armando Formiga e da fé rebelde de Gustavo Magno. Me puxaram, literalmente, da sala de dª Antonieta, minha mãe, pro carro de Armando, em direção ao estúdio de Tovinho, na terra de Jomard Muniz).
Não esqueçam, não esqueçam mesmo, até porque somos todos sobreviventes, como Daniel Ochotorena, que, na quinta-feira me mandou uma curta mensagem: “Somos campeões, porra!!!!”. Aí, tratava-se do Fluminense... Enfim, não esqueçam: eu sou aquele mesmo rapaz.
- “Carlos Aranha” -

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