sábado, 19 de janeiro de 2008

O GUERREIRO DA LUZ E A RENÚNCIA

Em qualquer actividade, é preciso saber o que se deve esperar, os meios de alcançar o objectivo , e a capacidade que temos para a tarefa proposta.
Só pode dizer que renunciou aos frutos aquele que, estando assim equipado, não sente qualquer desejo pelos resultados da conquista, e permanece absorvido no combate.
Pode-se renunciar ao fruto, mas esta renuncia não significa indiferença ao resultado.
A estratégia de Mahatma Gandhi. O guerreiro da luz a escuta com respeito, e no se deixa confundir por pessoas que, incapazes de chegar a qualquer resultado, vivem pregando a renuncia.

Renunciando à vingança

O guerreiro da luz tem a espada em suas mos. É ele quem decide o que vai fazer, e o que não fará em circunstancia nenhuma. Há momentos em que a vida o conduz para uma crise; ele é forçado a separar-se de coisas que sempre amou.
Então o guerreiro reflete. Verifica se está cumprindo, ou se age por egoísmo. Caso a separação esteja mesmo no seu caminho, ele aceita sem reclamações.
Se, entretanto, tal separação for provocada pela perversidade alheia, ele é implacável em sua resposta.
O guerreiro possui a arte do golpe, e a arte do perdão. Sabe usar as duas com a mesma habilidade.

Renunciando à provocação

O lutador experiente agüenta insultos, conhece a força do seu punho, a habilidade de seus golpes. Diante do oponente despreparado, ele apenas comtempla, e mostra a força do seu olhar. Vence sem precisar trazer a luta para o plano físico.
À medida que o guerreiro aprende com seu mestre espiritual, a luz da fé também brilha em seus olhos, e ele não precisa provar nada para ninguém.
Não importa os argumentos agressivos do adversário.
Assim como o lutador, o guerreiro da luz conhece sua imensa força; e jamais lut com quem no merece a honra de combater.

Renunciando ao tempo

O guerreiro da luz escuta Lao Tzu, quando ele diz que devemos nos desligar da idéia de dias e horas, e prestar cada vez mais atenção ao minuto.
Só assim, ele consegue resolver certos problemas antes que eles aconteçam. Prestando atenção nas pequenas coisas, consegue-se resguardar das grandes calamidades.
Mas pensar nas pequenas coisas, não significa pensar pequeno. O guerreiro sabe que um grande sonho é composto de muitas coisas diferentes, assim como a luz do sol é a soma de seus milhões de raios.

Renunciando ao conforto

O guerreiro da luz contempla as duas colunas que estão ao lado da porta que pretende abrir. Uma se chama Medo, outra se chama Desejo.
O guerreiro olha para a coluna do Medo, e ali está escrito “você vai entrar num mundo desconhecido e perigoso, onde tudo que aprendeu até agora não servirá para nada”.
O guerreiro olha para a coluna do Desejo, e ali está escrito “você vai sair de um mundo conhecido, onde estão guardadas as coisas que sempre quis, e pelas quais lutou tanto”.
O guerreiro sorri, porque não existe nada que o assuste, e nada que o prenda. Com a segurança de quem sabe o que quer, ele abre a porta.

- “Paulo Coelho” -

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