sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

“E a conta, quem paga?”

Muitos casais estão aderindo a uma nova forma de gestão doméstica. Relacionamentos à parte, cada qual reivindica autonomia na administração do seu próprio dinheiro.

Sérgio, engenheiro civil e Luana, arquiteta, 42 e 39 anos, vivem juntos há três anos. Profissões diferentes e contas bancárias à parte. Cada um gere o seu dinheiro de forma autônoma, no entanto, dividem igualmente as despesas conjuntas.

Cada um mantém a sua conta corrente e abriram uma conta conjunta onde cada um deposita a metade das despesas domésticas fixas: supermercado, luz, água, internet, impostos, condomínio, prestações de imóveis ou carro ou viagens programadas.

As despesas eventuais como: farmácia, presentes, restaurantes, viagens emergenciais, correm por conta de um ou de outro, geralmente paga quem ganha mais.
O que sobra na conta pessoal cada um administra do seu jeito. Seja aplicando, comprando roupas, presentes ou ajudando alguém da família. Quando o assunto é dinheiro se referem ao: meu, o seu e o nosso dinheiro...

José Emílio, consultor empresarial e Marli, promotora de eventos, 50 e 48 anos, estão casados há quinze anos. Desde o início do relacionamento perceberam que para evitar conflitos teriam que deixar claro alguns pontos como: divisão das tarefas domésticas, o happy-hour com os amigos, o relacionamento com o ex-marido e a visita aos filhos, e como ficaria o pagamento das despesas da casa.

Como ele sempre ganhou duas vezes mais do que ela, ficou decidido que ele arcaria na mesma proporção com as despesas da casa. Sempre coube a ela gerir o orçamento doméstico e efetuar os pagamentos.

Estes modelos de gestão doméstica eram totalmente impraticáveis há cerca de três décadas. A mulher dependia economicamente do marido. Cabia a ela cuidar do lar e da educação dos filhos. A obrigação do marido era sustentar a família. A entrada da mulher no mercado de trabalho, naquela época, não lhe dava autonomia na gestão do próprio dinheiro. Ela entregava o salário para o marido.

Nos dias atuais o relacionamento e a casa são como uma empresa e os seus membros como sócios, nem sempre com o mesmo número de ações. Não importa qual a fórmula de administração doméstica adotada, o que faz a diferença é a solidariedade quando um dos envolvidos não pode colaborar com a sua parte. Seja porque atravessa um mau momento nos negócios ou porque perdeu o emprego. Não há crise que dure para sempre.

O casamento ganhou uma nova dinâmica com a entrada da mulher no mercado de trabalho. Gradualmente, os homens começam a envolver-se mais nas responsabilidades familiares e tarefas domésticas. O casal assume papéis sociais idênticos e têm perfeita consciência dessa nova condição.

Muitos casais têm comportamentos individualistas. Quando um dos membros se apega demasiadamente aos bens materiais e faz questão de separar objetos, carros e pertences pessoais começa um jogo de disputa e de poder. Muitos esquecem que o objetivo de uma vida a dois é somar e não dividir... Hoje as trocas são muito mais intensas do que no passado, mas também muito mais efêmeras e superficiais.

O individualismo é um dos valores subjacentes a uma corrente filosófica nascida no pós-guerra: o existencialismo. Na França devastada pela Segunda Guerra Mundial, sob um cenário de morte e violência, surge a idéia concebida muito tempo antes por Kierkegaard de que o homem se encontra sozinho no mundo. Ou seja: sem Deus, por sua conta e risco. E que, desta forma, lhe cabe nortear o seu destino, que, assim, será sempre resultado de livres escolhas. Conseqüentemente, os indivíduos passam a procurar a rápida satisfação dos seus interesses, uma atitude que pode influenciar as relações, gerando situações de grande competição e sentimentos egoístas.

Há doze anos atuando como consultora amorosa, percebo que muitas mulheres maduras, estabilizadas profissionalmente e financeiramente, quando buscam um novo par afetivo ficam indignadas quando o homem sugere dividir uma simples conta do restaurante. As mulheres mais novas aceitam a situação com bastante naturalidade e, muitas vezes, parte delas a proposta.
Por isso, tantos homens ficam completamente confusos quando saem pela primeira vez com uma mulher.
Afinal, quem paga a conta?

Marlene Heuser

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