terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Portas estreitas

Os poderosos de todos os tempos sempre se preocuparam em manter a incolumidade de seus poderes, em perpetuar seus mandos. Mas poder é coisa que se acaba. Justamente por ser coisa, simplesmente.
Afinal de contas, as melhores coisas deste mundo não são coisas. Mas disso os poderosos não entendem...
Aflitos com a perecibilidade e a finitude das coisas deste mundo, um dos tais pergunta a Cristo no Evangelho deste domingo se era mesmo assim tão difícil entrar no Reino prometido.
O Filho do Homem podia ter acrescentado estatísticas ainda mais alarmantes do que aquelas que já deixavam os ricos e os poderosos em dificuldades maiores do que os camelos diante das portas do reino dos céus. Mas desta vez o nazareno preferiu falar de uma certa porta estreita que os interessados teriam de buscar se quisessem de fato eternizar o bem.
Alguém mais afoito pode confundir a porta estreita do Evangelho de Lucas com aquela passagem apertada de Indiana Jones, perseguido por uma bruta de uma pedra que rolava nos seus calcanhares. Uma coisa não tem muito a ver com a outra.
Aliás, Mateus é outro que recomenda cuidados especiais com as portas:
– Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. (Quam angusta porta et arta via quæ ducit ad vitam! et pauci sunt qui inveniunt eam) (Mt 7 13-14).
Para completar, o evangelista do domingo em boa hora adverte:
– Contudo, há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos.”
Para mim, a expressão de Lucas (13 30) é definitiva naquela entrevista de Jesus com as distintas personagens do seu tempo. Estou convencido de que esse diálogo nunca esteve tão atual.
Eu mesmo, se fosse um desses primeiros que levam a vida pensando em chegar na frente a qualquer preço, juro que tratava logo de retardar o passo, a fim de não chegar tão cedo ao destino traçado por Lucas. Porque o mal de quem não sabe chegar é ser obrigado a perder a vez.
Ó, Senhor, quem serão os próximos primeiros?
Ou melhor, quem serão os derradeiros últimos?
Se a pergunta fosse feita agora, neste preciso momento, talvez ficasse bem mais fácil de responder. Provavelmente, nem seria preciso invocar as Escrituras...
- “Luiz Augusto Crispim” -

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