sábado, 19 de janeiro de 2008

POBRE NÃO É POBRE

Estive recentemente em um dos bairros pobres de João Pessoa. Ao ver a água apodrecida e contaminada que resvalava em suas ruas estreitas sem encanamento, talvez até sem esgoto, pude observar crianças atiçadas e traquinas que jogavam à bola como se fossem futuros Romários ou Robinhos. Vi sonhos em forma de esperança. Vi corpos franzinos, vitimas de uma sociedade que prostitui o pobre, como se fosse o pode do social.
Estas crianças passaram apenas pela primeira fase do ciclo da vida humana. Nasceram. Crescer e reproduzir são etapas um tanto utópicas e que se sucedem com elevado grau de incerteza. Morrer é ponto comum de dois, mesmo com as sutilezas e mestrias da boa grana, que vem a proporcionar uma medicina excludente que tem o condão de em certos episódios e casos, sentenciar quem vai... decidir quem fica. Aí prevalece o poder do rico perante a fraqueza do pobre.
Na história clássica e sofrida do brasileiro, em particular do nordestino, podemos observar que várias gerações já depositaram o sangue e a própria vida na vala dos tempos, para que seus direitos de cidadãos pudessem ressoar nos plenários do povo, convictos de que somos todos iguais perante a lei e que direitos e garantias devem prevalecer.
Não assisto a novelas na TV, mas tenho desconfiado de que nossa sociedade é apenas uma peça de inverdades. Um cenário forjado, um cinema de dramas tentando roubar cenas e atenções sob a batuta de leis e regras criadas para esconder a hipocrisia dominante, a demagogia e o cinismo.
Tal qual o idoso, o pobre em nossa concepção elitista também não pode errar. O político brasileiro não erra, o pobre é que não consegue acertar, dizem. São vários os contra-sensos, mas são reis, são verdadeiros, o que me permite fazer aqui algumas reflexões. Tirar dos ricos para dar aos pobres é crime. Subtrair dos pobres para presentear os ricos é política. Pobre falando alto é falta de educação. Rico aos berros é stress. Um pobre que pega algo num loja é ladrão. Um rico surrupiando é cleptomaníaco. Celebridade fazendo besteira (e como tem) é excentricidade. Um pobre, flagrado na mesma asneira, é louco de pedra.
Aos pequeninos da lama, do charco, da fome, da bola furada e dos sonhos alados, o desejo de que não cruzem os braços nem desanimem, aprendam que sonhar é manter-se vivo. Por fim, o que se esperar quando em alguns paises sérios o povo vai ás ruas cobrir seus direitos e em outros, vai pular carnaval?

- “Amadeu R. Cordeiro” -

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