sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

‘D. PEDRO II: O MONARCA LIBERAL’

Na momentânea paisagem da historiografia brasileira, José Murilo de Carvalho é nome de primeira grandeza.
Fiel à pesquisa, escreve, respeitando os fatos, no culto a três valores que ornam, marcam, estigmatizam e definem o seu texto: humor estético, elegância semântico-verbal e luminoso poder de síntese.
A forma de José Murilo de Carvalho de escrever se amolda, como a mão à luva, a observação de Montaigne, ensaísta francês, quando ensina solene: “O estilo tem três virtudes: clareza, clareza e clareza”.
No seu mais recente livro, uma biografia de D. Pedro II – ser ou não ser, muito em coordenado por Elio Gaspari e Lilia M. Schwartz, editado pela Companhia das Letras, o instigante historiador traça, de forma medida, o perfil de corpo inteiro do imperador que governou o Brasil no período compreendido entre 23 de Julho de 1840 a 15 de Novembro de 1889.
Como se vê, quase meio século de domínio.
O texto, urge enfatizar, é rico e vastíssimo sobre os mis comezinhos hábitos do titular da Coroa.
De logo, emerge uma verdade que rejeita qualquer formulação urdida em sentido contrário: o Segundo Reinado foi espaço aberto a um ampla, geral e irrestrita liberdade de pensar e escrever.
A imprensa, pois, livre das amarras da censura.
Assim, com a liberdade de opinar, jornalistas, escritores, e, especialmente, caricaturistas, davam asas à imaginação, satirizando o Trono e o seu ocupante sem qualquer molestamento ou reprimenda da Coroa.
As imprecações, as mais agressivas, onde o monarca era apelidado de “O Rei Caju, César Caricato ou Pedro Banana”.
Depois, a missão para lhe conseguir um casamento na Casa da Áustria, confiada ao brasileiro Bento da Silva Lisboa, demorou dois anos, n tentativa de convencer Ferdinando I e o chanceler Metternich.
Assim, após demorados certos diplomáticos, oficializou-se o casamento do Imperador do Brasil com Teresa Cristina, a irmã mais nova do Rei Fernando II das duas Sicílias.
Como só a conhecia por retratos, ficou decepcionado ao vê-la pessoalmente.
Mesmo assim, o casamento foi realizado, com o surgimento de prole.
Buscava, por isso, outros amores, como a paixão ardente que viveu com a condessa de Barral, uma beletrista e elegante dama da Corte.
Por tal apego ao mundo das saias, um panfleto da época disse ser D. Pedro II “doido por um caldinho de franga”.
Era, por outro lado, um homem sensível às imantações do espírito.
Tinha verdadeiro encantamento por livros. Lia-os a toda a hora, possuindo,por isso, três bibliotecas com 60 mil volumes.
Amava o Brasil. Sabendo que a Republica vinha a galope, confidenciou certa vez: “Se os brasileiros não me quiserem para seu Imperador, irei ser professor”.
Exilou-se em Paris, onde morreu, sendo o seu corpo sepultado em Portugal.

“Paulo Gadelha”

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