sábado, 19 de janeiro de 2008

GARATUCHAS SOBRE TODOS E SOBRE NINGUÉM

As tais fotografias. Uma tuia de gente. Das festas, feijoadas, mesas de oito pessoas, longos e alugados, estão todas numa caixa preta de sapato dentro da gaveta do criado-mudo, feito um tesouro barato. Foi um presente que o saudoso colunista da josildo Albuquerque deixou para mim.
Eu tenho medo desses olhares bifocais das fotos, que se multiplicam pelas praias, que me encaram de lado, como gatos em telhado de palha. Não entendo porque ansiosos metem os dedos no nariz e se deliciam nos sinais fechados e eu fotografo outros dedos envelhecidos e nervosos procurando no sexo das “minas”, o alimento para o nó da garganta.
Tantos vivem no passado. O futuro ensina a olhar de soslaio. E vou. Longos esses dias em que todas as pessoas só falam em tragédias, esquecendo que tudo é cíclico, que a dor aparece do nada e ser solidário não significa ter controle sobre o badalo. As fotografias vão além da banalidade, acordam e estão lá, personagens do caos.
Sob o abajur, quase inerte, transporto o up grade para o lixo escondido das mentes, já que nada é imune aos dias negros e sagrados, como todas as crianças belas que nos fotografam com seus olhos de fogo nos sinais fechados.
Acontece, me dizem. Estão certos, penso.
Sou mais um. Faço parte da estatística que enfia o porta-retrato e as agendas numa sacola de plástico para captar coisa além. Não foi através das fotografias que conheci pessoas incríveis.
Saio à francesa quebrando as pedras deixadas por Drummond para receber um abraço de quem realmente vai sentir. Aliás, vamos refazer o mundo e eu não me chamo Raimundo, mas vou deixando para trás as fotografias que só servem para marcar épocas. Fotos que são arremedos de cenas que teimam em ser sussurradas e um pedaço de mim nunca desiste.
Cenas mudas. Muitas. Quem virá, verá?

- “Kubitschek Pinheiro” –

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