terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Porta secreta

Carne de Pescoço - 14/11/2005
Zé Ramalho

Vou te passar um motivo que te faça como fez em mim, a nossa alegria alegria. O grande sopro que veio pelo mel de todos os segredos, pelo som de todos os brinquedos, um canto leve que leve a gente para outro lugar transparente, que em tudo reluz a boa e forte imagem que chega.

Nesses dias que temos pela frente, à qualquer hora um "napalm" pode lhe acertar.

Você pode esbarrar numa esquina com a sorte que lhe procura desde que você nasceu, e você pode procurar o planeta inteiro por ela (a sorte) e não encontrá-la.

Ela pode estar lhe procurando em Marte ou em Saturno e não sabe que você está aqui na Terra. Portanto, quero ir para Vênus ou mesmo quem sabe, me plantar e enraizar meus pés no Brejo-do-Cruz, lugar cercado de luz. Amigo feto da minha infância.


uma calçada cheia de lixo,
refugos que vou atirando para trás
por cima dos ombros,
chegarei um tempo, minha gente,
nessa minha viagem para trás,
onde falarei com velhinhos que estavam
nos rubros campos de batalha
e eles me disseram que o súbito silêncio...
era a Voz de Deus.


Para saber da passagem e qual a ponte a me atravessar, que próxima vinda me chega no corte das atrações em dia?

Um magneto espesso, um solenóide aparente, os átomos bulindo, como eu diria: no gosto do fino cálculo.

Descer da solidão, é se jogar no teu abismo. Naquela sensação de tiro e queda, um pulo no carnaval de cada um. A sensação das procuras e dos desejos. O saciar qualquer vontade, qualquer coisa que provoque fagias no teu denso mistério de homem. Teu curioso olho em flerte com o desafio.


por detrás das montanhas,
quando vens cada ciclo,
me estremeço de veias,
fico mudo de pleno
ano-luz amarela
que derrete os minerais,
que amolece os animais
curandeira das trevas,
pastorinha do cais,
que recebo em teus raios
no alimento das sombras
que chegaram relâmpagos
entre olhos de pedras
cavalgaram teu dorso
nos umbigos da terra
nos rochedos que rompem
ante um raio mais forte,
os sons das guitarras,
faíscas da vida.


Um torvelinho louco que nos levou em pouco tempo para o ventre dos abismos, nunca verá o brilho que engana os olhares curiosos dos nossos inimigos. E o milagre dos venenos que trouxeram todo o ardor do fogo nos ouvindo e nos livrando do que antes fora um barco salvador.


os portões do éden vão se abrir
e os quatro cavaleiros armados
de carabinas e armaduras medievais
vão invadir os templos sagrados
e espalharão sede nas campinas
nem as ervas sobreviverão,
por mais daninhas que sejam,
nem os peixes e nem os caçotes
suportarão o peso das águas.
mas as serpentes tentarão reagir,
lançando fogo sobre o metal vil,
laçando bichos já estrangulados
pela ação corrosiva dessa erosão,
os holofotes do pequeno dragão,
um fusco-pálido mais brancoso,
poderá iluminar no céu.
um para-quedas com uma cruz vermelha
e os ossos brancos do pirata negro
na abordagem da ilha do sossego.


Qual é a mais estranha e distante percepção que uma projeção humana pode ser lançada no universo do seu raciocínio lógico e ilógico?

O desconhecido sempre existirá. Porque o vocábulo exprime exatamente o que não pode ser definido como um conhecimento tátil ou teórico de alguma coisa dura, etérea ou regiões avançáveis. O sentido literal não é absoluto no "conhecido" e no "desconhecido' Maniqueísmo valor aplicado. As luzes acendem-se e apagam-se no cérebro do homem, deixando-o fantoche das suas emoções, e comandos da sua vontade.


esteja eu perto ou longe,
mantenha sempre nos olhos
a minha imagem que eu me tranformo
em olhar e em coração para embalar
essa lembrança
e desprender suas luzes na madrugada
todos que foram empalhados,
não mais estaremos calados
como bichos alados que voam
no silêncio da sua própria solidão,
de quem souber imantar
a vela mais que fulgas
o tempo para na curva e manda um beijo
para a filha da chuva
correio da noite
vai amanhecer
e a manga da foice,
se clara se vê.
se foi ante-ontem,
espero que contem
quem foi sem morrer

tua porta, tão larga
vive aberta em silêncio,
pois só treme nos gonzos
quando rangem os seus dentes.

mas quem for lá cruzá-la,
vai viver seus momentos,
pois é lá que habitam
todos os sexos dos anjos
e os chocalhos da cobra
no olhar do sertão


Essa porta tem um ferro transparente como seda e uma rigidez tão sólida quanto a inocência das crianças.

Ela vem de outros movimentos, de outros murmúrios, de outros paradigmas que não esses que são corrompidos desde que se coagularam nessa dimensão escabrosa do novo pensamento mundial.

A cabeça. Como é bela. Os olhos são as janelas por onde essa coisa esquisita que se diz energia, espia o que se passa aí fora numa determinada partícula que flutua no universo.

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