terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Raul Seixas, luta de classes e ouro de tolo

O rebelde Augusto dos Anjos, em seus “Versos íntimos”, escreveu: “o homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”. Ele, se aqui estivesse, veria pessoas acostumadas a um imenso mar de lama, vivendo numa sociedade embriagada pelo excesso de novidades tecnológicas. Pessoas que, de tão desprotegidas, aprenderam a banalizar a violência, a falta de caráter, a falta de ética, a imoralidade. Cidadãos que vivem indefesos e sem porta-voz. Falta-lhes um toque de inconformismo. Não querem perder, acabam perdidos. É nessa história de porta-voz que fico ouvindo Raul, Cazuza, Renato Russo, Cássia Eller, e procurando vozes que representem ideais, que ofereçam propostas.
Raul Seixas nasceu no dia 28 de junho de 1945 e faleceu em 21 de agosto de 1989, fez muito rock num Brasil de brasileiros em transformação. Gritou e cantou sua mensagem de tonalidade rebelde que falava de um mundo de homens livres. Sinto saudade dele. Acho que, se vivo fosse, estaríamos recebendo sua música tão necessária ao espírito jovem. Outro artista que me fez ter orgulho de ser roqueiro e não desistir nunca foi Cazuza. Com suas letras, sua sensibilidade e sua coragem, ele ainda provoca - como Raulzito - o amor de uns e o ódio de outros. Raul e Cazuza nos ensinaram - e ainda ensinam - a vaiar quem nos sacaneia. E é assim que tem que ser quando se é autêntico. Hoje, estou com saudade de um tempo em que se perguntava, na voz de Renato Russo: “Que país é este?”
“De resto, só nos resta o rock”, é o refrão de algo já preparado para meu próximo disco, que gravarei, em breve. Não creio que o rock de protesto esteja morto. Acredito que ainda existam muitas moscas soltas por aí. E, nada mais ideológico do que ser mosca na sopa daqueles que tentam nos iludir. Ideologia é algo natural ao ser humano. Afinal, quem defende a tese que prega a morte das ideologias, está sendo ideológico. É esta contradição sadia, fruto das aptidões intelectuais que desenvolvemos desde a Pré-História, que me faz perceber, tão claramente, a luta de classes (agora, mais acirrada e violenta) presente no dia-a-dia. Como complemento e contraponto, sempre haverão rebeldes cantando a “música urbana”, vaiando o que não agrada, pois, rebelde começa com “R” de Raul.
Gustavo Magno

Sem comentários: