sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

MATURIDADE

O tempo avança inexoravelmente par o futuro. Ao mensurar seu avanço percebemos quanto somos frágeis e finitos no desenrolar de uma vida mutável. O tempo excede numa velocidade imperceptível e traiçoeira. Convivemos durante anos com uma pessoa e somente começamos a desvendar alguns contornos da sua existência quando paramos para uma reflexão. A complacência da maturidade começa a tomar corpo e novos olhares são disparados. A contemplação é de soslaio para não chamar á atenção. E, muitas vezes parecendo abstraído, permaneço com olhos e ouvidos atentos á cata de novas percepções.
Durante toda uma vida motivos vários não nos deu o prazer dessa visão. Somente agora no meio do caminho da existência despertamos para novas cenas. Atributos e maneiras inéditas começam a desabrochar numa paisagem amena e cheia de graça enriquecendo dia-a-dia os desvãos do pensamento. Aos poucos são incorporados definitivamente numa nova imagem. Ela esta alerta aos mínimos detalhes da vida domestica enriquecida com a chegada dos descendentes que crescem moldurando uma bela pintura num quadro pincelado com as suas próprias mãos em cores vivas e alegres.
Observo-a de soslaio para não chamar á atenção.
A mesma vivacidade, a mesma disposição de espírito e insuperável capacidade de trabalho como outrora que o tempo não conseguiu arrefecer. Prece uma deusa da mitologia grega repleta, espargindo e borbulhando energia para as contendas da vida. A companheira de longa data entra definitivamente na maturidade. Na plenitude dos sentimentos consolidados. Aparenta indiferença com sua nova intimidade, mas sempre atenta aos mínimos detalhes que o tempo inflexível e malvado começa a desabrolhar. Ela passeia com desenvoltura por caminhos estreitos e pedregosos da vida sem dar sinais de tédio ou fadiga principalmente quando as tribulações são os canteiros de rosas de netos e netas.
Observo-a cansada sem dar sinais, escuto-a ávida por servir sem esmorecer nas palavras e nos gestos. Novos ângulos, nova postura, novo semblante nas tarefas rotineiras e nas caminhadas pela vida. Irrompe às vezes com gestos aparentemente abruptos e reclamos carregados, numa decisão voluntariosa, mas impregnados de serenidade e cumplicidade. Sempre há uma razão de ser em tudo que faz. Imiscui-se cada vez mais aos descendentes anunciando mais uma razão da sua existência. Um diferencial que exala pureza, inveja e ciúme. O amor tem várias facetas. Diferente da tagarelice da mocidade, o mor da maturidade desabrocha sereno e consciente. Mais vigoroso e sem o viço inquieto da juventude.

‘Joaquim P. Martins’

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