sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A MISÉRIA DA FILOSOFIA

O clássico “A Miséria da Filosofia” de Kart Marx, obra de leitura indispensável. Importante pelo poder que o texto tem de fundamentar historicamente a pauta do debate contemporâneo: mercado globalizado, fim do emprego, miséria, salário mínimo, desemprego, fusão de grandes empresas, inflação, crise das bolsas de valores, lucros exorbitantes dos bancos, políticas publicas em crise, greves, Mercado Comum Europeu, Mercosul...
Estes temas têm origem comum: o trabalho organizado e dividido para gerar um valor àquilo que é produzido; o que é produzido transformando-se em mercadoria; a produção de mercadoria que cria um mercado, produção, o capitalismo. O capitalismo enquanto motor da produção do lucro. E o valor de uso e o valor de troca da força do trabalho gerando mais valia. Analisando a teoria clássica da economia e o capitalismo que emerge com a revolução industrial, Marx redimensiona a teoria do valor conceituado por Adam Smith e David Ricardo.
Smith, em “A riqueza das nações” (1776), atenta para a divisão do trabalho esmiuçando níveis de organização da produção subjacente à teoria do crescimento econômico. Alem disso, avança sobre uma teoria do valor: o trabalho incorporado (valor trabalho) é igual ao trabalho comandado (valor do produto do trabalho). Ocorre que o valor da mercadoria produzida (valor venal) é bem maior do que o valor do tempo de trabalho pago ao trabalhador. Quanto a este excedente, o lucro, ele não conseguiu definir os mecanismos que o produzem.
TEORIA DO VALOR DO TRABALHO
Ricardo em “Princípios da Tributação” (1871) expande a perspectiva de Smith pesquisando a teoria do valor – trabalho. Ele afirma que o valor é sempre igual ao tempo de trabalho contido na mercadoria . O lucro seria um excedente. Um residual no relacionado com um mecanismo de apropriação do trabalho enquanto mercadoria através da intensificação da produção via mecanização.
Numa definição bastante superficial, podemos afirmar que o diferencial da teoria do valor trabalho da teoria de Marx é que este identifica o caráter abstrato, além do concreto, do trabalho. O abstrato seria aquele valor determinado para a mercadoria pelo mercado. O concreto seria aquele que é pago ao trabalhador pelo tempo empregado para a produção.
Nesta diferença, surge a mais valia. Mais valia que é diferente de lucro. Informa a economista Maria da Conceição Tavares: o lucro é medido em preços de produção e a mais valia é medida em tempo de trabalho socialmente necessário.
A obra “O Capital” de Marx é considerada um das mais importantes da historia da humanidade. Está em “A Miséria da Filosofia” a chave das portas da concepção “de uma nova concepção da historia lançando as bases da teoria da ação política”, ensina Celso Furtado a propósito do trabalho inovador de Marx. A definição feita pelo paraibano está em “Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico” texto seminal publicado há exatos 40 anos.
RESPOSTA O PAI DO ANARQUISMO
Marx escreveu “A Miséria da Filosofia” em resposta ás idéias de Pierre Joseph Proudhon (ilustração) contidas no livro “Sistema das contradições econômicas ou filosofia da miséria”
Em dois volumes, o escritor francês, jornalista e gráfico considerado um dos fundadores da Sociologia, também “pai” do anarquismo, e pelo próprio Marx definido como o mais afoito pensador do “Socialismo Francês”, analise as condições de vida dos trabalhadores sob o capitalismo. A perspectiva do estudo é a de que a política econômica vigente na Europa não só produz a miséria quanto aprisiona o trabalhador assalariado em condições miseráveis.
Marx concorda com o fato de que o capitalismo aprisiona o trabalhador em miséria. Mas rechaça o raciocínio lógico de Proudhon quando este teoriza sobre o valor de uso e valor de troca da mercadoria trabalho.
RAZÕES PARA O ROMPIMENTO
“A Miséria da Filosofia” não é apenas uma resposta ao notável pensador francês, mas propõe uma revisão da filosofia alemã, como afirma o autor. Além disso, Marx expõe o método, o nível de percepção do processo histórico da produção de bens, a base lógica da argumentação, a verificação metodológica das abordagens das teorias clássicas da Economia Política entre outros processos e temas presentes em “O Capital”, obra que neste 2007 completa 140 anos desde a sua primeira edição.
Temas de “O Capital” como valor de uso e valor de troca da mercadoria, a substancia e a grandeza do valor, taxa e massa da mais valia, acumulação primitiva, entre outros, são abordados em “A Miséria da Filosofia” numa antecipação que favorece o processo de produção do conhecimento realizado por Marx.
Um aspecto digno de nota é o fato de que Marx usa o livro de Proudhon com dois objetivos precisos: divulgar a critica econômico filosófica fundamentando teses basilares do materialismo histórico e dialético e definir o rompimento radical com Proudhon.
O rompimento deveu-se à recusa de Proudhon em integrar um grupo revolucionário liderado por Marx para difundir as idéias socialistas. Proudhon afirma que o caminho de Marx poderá levar ao autoritarismo e ao dogmatismo. O stalinismo confirma Proudhon. A partir de então, Marx converteu admiração em rejeição radical. Uma historia que merece ser conhecida.

“Carlos Aranha”

Sem comentários: