Imagine uma tarde de domingo, em pleno verão, no Maracanã. O estádio está cheio, o time da Argentina entra em campo e a torcida brasileira, só para provocar canta em uníssono: “Sou Brasileiro, com muito orgulho”. Pouco depois a seleção nacional também adentra o gramado e a cantoria se repete. É um espetáculo bonito. “De arrepiar”, como diz Galvão Bueno.
Pois bem, o povo brasileiro só pode se sentir orgulhoso se for no futebol. Fora das quatro linhas, como falam os narradores do esporte bretão, não há nenhum sentido em se falar em orgulho nacional.
“O Brasil é um país sem causa”, disse á alguns dias o Senador Cristovam Buarque, comentando o crescimento do trabalho infantil e o aumento do numero de crianças fora das escolas. Revelou que em 2003, quando ainda era ministro, alertou o presidente Lula sobre este assunto. Previu que com o fim da “bolsa-família”, o numero de crianças trabalhando iria aumentar. E foi o que aconteceu.
Mas o Brasil é um país sem causa não apenas porque não cuida dos seus meninos. O Brasil é sem causa porque existe um grande divorcio entre o Estado e a Nação. No tempo da ditadura era comum se fazer esta distinção. Os militares se apoderaram do Estado, mas a Nação vivia órfã. Veio a redemocratização em meados dos anos 80 e pensou-se que, agora sim, Estado e Nação iriam juntar-se numa coisa só. Era só impressão. A injustiça social no Brasil só fez aumentar.
Um país que cobra, na forma de impostos, 40% de tudo o que o cidadão ganha, como salário por ano, não merece que dele ninguém se orgulhe. Um país que abandona as crianças e os velhos à própria sorte e se consagra campeão mundial da injustiça, com a pior distribuição do planeta, não deve ser saudado como uma coisa que deu certo.
O Brasil deu errado pela ação das suas elites. Primeiro, as elites portuguesas degredadas. Depois, os herdeiros nativos, especialistas em praticar o capitalismo selvagem.
Mas, se tudo isso ainda não bastasse, o problema é mesmo o que lá em cima se falou: o país hoje não tem causa. Não luta absolutamente por nada. No máximo, cada um luta por si e uma Nação não se faz assim.
Cabe, então, perguntar: e ai, o Brasil tem jeito? Claro que tem. Não com essa gente que está no poder nem com esta pantomima de democracia. Terá jeito no dia em que , sinceramente, o governo e a Nação decidirem que a política dos ricos já está feita. Falta fazer a política dos pobres.
Já lutamos pela independência, pela integridade do território, pelo petróleo e pelas liberdades, inclusive as dos negros. Hoje não temos causas nacionais pelas quais lutemos. Fica cada um no seu canto, cada qual e o seu país, desse jeito, não se faz merecedor do hino que a torcida, emocionada, ecoa nos estádios de futebol. Lamentavelmente.
‘Agnaldo Almeida’
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