sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

ALÉM DO OUTRO DIA

É cantando que vejo os dias já vividos, além do outro dia. Em passos firmes, o balé da vida é leve nesse tempo de canto primaveril. Nada afeta os sonhos de desenhos bem traçados, no campo da mente.
É cantando que acompanho os passos dados no chão fértil da terra do sol, repleta de luz, a focar os caminhos de outros tempos, em que se acreditava ser possível alcançar o que se desejava. É cantando que vago em busca dos belos anos, ricos de contentamento e deslumbre, quando, na tela da fantasia, apareciam quadros de amor de final trágico ou de felicidade para sempre. Nessa estação, passou toda a esperança de futuro realizável e próspero.
É cantando que acompanho o toque dolente de um relógio na parede, testemunha viva de um primeiro beijo nas nuvens e nas estrelas. Se pudesse, eu daria a vida inteira pelo pause desse instante de profundas marcas no coração. E cantando que se procura gravar o que está longe dos olhos mas guardado, bem seguro, no cofre das recordações.
É cantando que passo, a toda hora, a película onde os interpretes tão queridos e conhecidos se encobrem, nos dias de hoje, na névoa que fica muito além do palpável e visível. É sonhando de olhos fechados que vejo a felicidade vivida nos distantes dias de outras datas.
É cantando e bailando que vejo fotos e mais fotos plenas de sorriso em semblantes tão de bem com a vida! Nesses dias, a espera por outra aurora era a garantia de um sonho real. Nessas noites e dias, a lua tinha raios mais prateados e o sol douradas as faixas rutilantes.
É com alegria que vejo sinceras amizades conservadas, além do outro dia. Nas tardes, vou passando as páginas dos outros tempos, onde gravadas estão as ilusões e pensamentos construídos e sobrevividos.
É cantando e bailando que dá gosto ver que nada feneceu; que a semente gerou férteis brotos numa perpétua aliança a ser cumprida e respeitada, na era dos novos traçados arquitetônicos, te que tudo se transforme, mais adiante, como agora, em outra aurora, além da de hoje.
E assim, a historia continua com o depoimento de alguém que viveu duplamente outro dia muito, além desses dias.

‘Onélia Queiroga’

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