Defensor intransigente da Teoria da Evoluçao das Espécies, de Cahrles Darwin, o biólogo inglês, Richard Dawkins, chega quase a se divertir quando se dedica a desmontar um por um os fatos bíblicos narrados no Antigo Testamento. Sobre a história de Adão e Eva, Dawkins diz que se trata de uma “loucura de pedra”. E conta que toda a vez que puxa este tema os teólogos modernos o advertem de que tudo aquilo é uma historia apenas simbólica.
“Simbólica? – pergunta-se o cientista, para em seguida completar: então, para impressionar a si mesmo, Jesus fez-se ser torturado e executado, num punição indireta por um pecado simbólico cometido por um individuo inexistente? Como eu disse, loucura de pedra, além de cruelmente desagradável”.
E diz mais: “A expiação do pecado original, que está no cerne da teologia do Novo Testamento, é um ensinamento quase tão repulsivo em termos morais quanto a historia de Abrão, preparando-se pra transformar Isaac em churrasquinho”: ao falar em churrasquinho, Dawkins está se referindo ao episodio do sacrifício que Deus pediu a Abraão. No exato momento em que Isaac ia ter o corpo queimado numa fogueira, Deus ordenou a Abraão que parasse, pois já havia demonstrado a sua fé.
Fundador de todas as três grandes religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo – Abraão é atacado pelo escritor inglês sem piedade. Diz ele: “Relativamente cedo em sua longa vida, Abraão foi para o Egito, para fugir da fome, com a sua mulher Sara. Ele percebeu que uma mulher tão bonita seria cobiçada pelos egípcios e que portanto a sua própria vida, como marido dela, poderia ficar em perigo. Então, decidiu fazê-la passar por sua irmã. Como tal, ela foi levada para o harém do faraó e Abraão, em conseqüência, enriqueceu com o favorecimento do faraó. Deus desaprovou o pequeno arranjo e enviou pragas sobre o faraó e sua casa (porque no sobre Abraão?). o faraó, compreensivelmente nervosos, exigiu saber porque Abraão não lhe contara que Sara era sua mulher. Ele então a devolveu a Abraão e expulsou os dois do Egito”.
Prossegue Dawkins: “O estranho é que aparentemente o casal tentou usar o mesmo golpe de novo, desta vez com Abimeleque, rei de Gerar. Também ele foi induzido a se casar com Sara, novamente tendo sido levado a crer que ela era irmã de Abraão, e não mulher dele. Também ele manifestou a sua indignação, em termos quase idênticos aos do faraó, e é difícil não se solidarizar com os dois.
A HISTÓRIA DE LÓ
Quem também não escapa da ira do biólogo inglês é Ló, o sobrinho da Abraão. Conta ele que na destruição de Sodoma e Gomorra dois anjos foram enviados a Sodoma para avisar Ló, cuja família era considerada especialmente correta, que saísse da cidade antes da chagada do enxofre, que iria destruir tudo. Ló recebeu os anjos com hospitalidade, e então todos os homens de Sodoma se reuniram em torno da casa dele e exigiram que Ló entregasse os anjos para que eles pudessem (o que mais?) sodomizá-los.
“Onde estão os homens que vieram para tua casa esta noite? Traze-os para que deles abusemos”. (Gênesis,19,5) A bravura de Ló ao recusar-se a ceder à exigência sugere que Deus deve até ter tido razão ao considerá-lo o único homem de bem de Sodoma. Mas a aureola de Ló fica manchada com os termos da sua recusa:
- Rogo-vos meus irmãos, que não façais mal; tenho duas filhas, virgens, e vo-las trarei; tratai-as como vos parecer, porém nada façais a estes homens, porquanto se acham sob a proteção do meu teto. (Gênesis, 19, 7-8).
Richard Dawkins, então, faz o seu comentário: “Por mais estranha que a historia possa parecer, ela certamente nos indica alguma coisa sobre o respeito reservado ás mulheres nessa cultura intensamente religiosa. No final, a oferta que Ló fez da virgindade das suas filhas mostrou-se desnecessária, pois os anjos conseguiram afastar os agressores cegando-os por milagre”.
E continua: “Eles, os anjos, advertiram Ló para que partisse imediatamente com a sua família e os seus animais, porque a cidade estava prestes a ser destruída. A família inteira escapou, com a exceção da pobre mulher de Ló, que o Senhor transformou num pilar de sal por ter cometido a ofensa – relativamente leve, seria de imaginar – de olhar para trás para ver os fogos de artifício.
As duas filhas de Ló fazem uma breve reaparição na historia. Depois da mãe ter sido transformada num pilar de sal, elas moram com o pai numa caverna, no alto de uma montanha. Carentes de companhia masculina, elas decidem embebedar o pai e copular com ele. Ló no percebeu quando sua filha mais velha chegou á sua cama ou quando saiu dela, mas não estava bêbado demais para engravidá-la.
Na noite seguinte, as duas filhas combinaram que era a vez da mais nova. Novamente Ló estava bêbado demais para perceber, e a engravidou também. (Gênesis, 19, 31-36).
Vejam como Dawkins conclui: “Se essa família tão perturbada era a melhor que Sodoma tinha para oferecer em termos de princípios morais, dá até para começar a sentir certa solidariedade para com o Deus e o seu enxofre punitivo”.
O livro “Deus, um delírio” é recheado de historias como esta, quase todas tiradas do Antigo Testamento. No Novo Testamento, o autor pinça alguns atos de Jesus Cristo e até se compadece de Judas Iscariotes. Sobre o tema, ele escreve o seguinte: “Se Jesus (para cumprir o plano divino de redimir a humanidade do pecado original) queria ser traído e depois assassinado, não é injusto por parte daqueles que se consideram redimidos, descontar em Judas e nos judeus por toda a eternidade?”
Ele fala, então, de um manuscrito, que supostamente seria o Evangelho Segundo Judas e que só recentemente foi traduzido. “Seja quem for o autor, o evangelho é visto da perspectiva de Judas Iscariotes e sustenta que Judas só traiu Jesus porque Jesus pediu que ele fizesse esse papel. Tudo fazia parte do plano para que Jesus fosse crucificado e assim redimisse a humanidade. Por mais ridícula que seja esta doutrina, ela parece compreender o desagrado causado pela vilanização de Judas”.
‘Agnaldo Almeida’
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