sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O SILENCIO QUE FALA

Muitas coisas se falam a respeito de Beethoven. O fato de ter composto extraordinárias sinfonias, mesmo após a sua total surdez, é sempre recordado. Exatamente por causa dessa surdez, era pouco sociável. Enquanto pôde, escondeu o fto de a audição estar comprometida. Evitava as pessoas porque a conversa se lhe tornara uma prática difícil e humilhante. Era o atestado público da sua deficiência auditiva.
Certo dia, conta-se, um amigo seu foi surpreendido pela morte súbita do filho. Assim que soube, o musico correu para a casa dele, pleno de sofrimento. Beethoven não tinha palavras de conforto para oferecer. Não sabia o que dizer. Percebeu, contudo, que num canto da sala havia um piano. Durante 30 minutos, ele extravasou as suas emoções da maneira mais eloqüente que podia, tocando piano. Ao contato dos seus dedos, as teclas acionadas emitiam lamentos e melodiosa harmonia de consolo. Assim que terminou, foi embora. Mais tarde, o amigo comentou que nenhuma outra visita havia sido tão significativa quanto aquela.
Reflexão:
Por vezes, nós também, surpreendidos por noticias muito tristes ou chocantes, não encontramos palavras para expressar conforto ou consolação. Chegamos ao ponto de não comparecer ao enterro de um amigo por sentir ‘não ter jeito’ para dizer algo à viúva ou aos filhos órfãos. Não vamos ao hospital visitar um enfermo do nosso circulo de relações porque nos sentimos inibidos. Como chegar? O que levar? Que palavras dizer?
Prendamos com o gesto do imortal Beethoven: na ausência de palavras, permitamos que falem os nossos sentimentos. Ofertemos um abraço apenas, e deixemos as lágrimas de quem se veste de tristeza escorrer em nosso peito. Sentemo-nos ao lado de quem padece e lhe seguremos a mão, como a afirmar, com todas as letras e nenhum som: estou aqui. Conte comigo!

‘Brígida Brito’

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