“E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de Abril, estando da dita ilha 660 ou 670 léguas, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho... Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs o nome Monte Pascoal e á terra, a Terra de Vera Cruz (Pero Vaz de Caminha)”
O descobrimento oficial do Brasil está registrado com minúcias na carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, Dom Manuel, relatando o “achamento” da nova terra. Poucos são os países que possuem um relato tão minucioso. Ainda assim, permanece a dúvida a respeito do desvio de rota que conduziu a armada de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Será que o descobrimento do Brasil foi um mero acaso? Essa questão talvez jamais venha a ser esclarecida. No entanto, a naturalidade com que a terra foi avistada, o conhecimento preciso das correntes e das rotas, as condições climáticas durante a viagem e a alta probabilidade de que o país já tivesse sido avistado anteriormente parecem ser a garantia de que o desembarque naquela manha de 22 de Abril de 1500, foi uma mera formalidade: Cabral talvez estivesse apenas tomando posse de uma terra que os portugueses já conheciam e pela qual ainda demorariam quase meio século para se interessarem de fato.
Era 22 de Abril de 1500. depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrava terra. Nos nove dias seguintes, nas enseadas generosas do sul da Bahia, os 13 navios da maior armada já enviada ás Índias pela rota descoberta por Vasco da Gama permaneceram reconhecendo a nova terra e seus habitantes.
O primeiro contato, amistoso como os demais, deu-se já no dia seguinte, quinta-feira, 23 de Abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e companheiro de Gama, foi a terra, em um batel, e deparou com 18 homens “pardos, nus, com arcos e setas nas mãos”. Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto. Em troca, recebeu um colar de plumas e um colar de contas brancas. O Brasil, batizado Ilha de Vera Cruz, entrava, naquele instante no curso da historia.
‘Eduardo Bueno’
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