sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

SOLIDARIEDADE TOLERANTE

O sociólogo francês Emile Durkheim faz uma distinção entre “solidariedade mecânica”, caracterizada pela união de estamentos sociais homogêneos, semelhantes e unidos por laços de parentesco, e “solidariedade orgânica”, que une as pessoas em decorrência da divisão do trabalho social.
A esses dois conceitos poderíamos acrescentar o de “solidariedade tolerante” uma subespécie de solidariedade imposta e desenvolvida na estrutura educacional brasileira, caracterizada pela ineficácia para formar cidadãos e incentivada como extemporânea instrumento de controle.
Sob o falacioso argumento da escola enquanto centro de democratização – nome pomposo para a aceitação subserviente das imposições do Banco Mundial e da UNESCO – o governo brasileiro posterga, cada vez mais, a importância das Ciências Humanas em sua função de incentivar a reflexo e o debate acerca da condição humana, das contradições, dilemas e limitações do homem no processo de construção da realidade histórica, social, política e econômica.
Associando o conceito de democracia ao discurso populista, mero instrumento de sedução, manipulação e aliciamento dos segmentos miseráveis, o governo, em todos os níveis, promove um ensino claudicante e superficial que incapacita o estudante a entender as propostas políticas ao mesmo tempo em que usurpa a capacidade de interrogação.
A população – a mesma que promove caminhadas evangélicas, procissões, atos públicos e passeatas pedindo paz e ordem para o combate da violência – é a mesma que negligencia a sua função precípua de lutar por uma sociedade que, pelo menos, proporcione uma educação que transforme os seus próprios filhos em cidadãos produtivos.
Pelo contrario, incentiva a “solidariedade tolerante” que para não “frustrar”, “invadir privacidade” ou causar “trauma psicológico” – torna-se incapaz de cobrar responsabilidades. O resultado é previsível: é cada vez maior o contingente de analfabetos titulados à margem do mercado de trabalho.

‘Josinaldo Malaquias’

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